sábado, 23 de junho de 2012

Cerimonial do amor

Se não houver esperanças de que o teu amor seja recebido, o que tens a fazer é não o declarar. Poderá desenvolver-se em ti, num ambiente de silêncio. Esse amor proporciona-te então uma direcção que permite aproximares-te, afastares-te, entrares, saíres, encontrares, perderes. Porque tu és aquele que tem de viver. E não há vida se nenhum deus te criou linhas de força. Se o teu amor não é recebido, se ele se transforma em súplica vã como recompensa da tua fidelidade, se não tens coração para te calares, nessa altura vai ter com um médico para ele te curar. É bom não confundir o amor com a escravatura do coração. O amor que pede é belo, mas aquele que suplica é amor de criado.
Se o teu amor esbarra com o absoluto das coisas, se por exemplo tem de franquear a impenetrável parede de um mosteiro ou do exílio, agradece a Deus que ela por hipótese retribua o teu amor, embora na aparência se mostre surda e cega. Há uma lamparina acesa para ti neste mundo. Pouco me importa que tu não possas servir-te dela. Aquele que morre no deserto tem a riqueza de uma casa longínqua, embora morra.
Se eu construir almas grandes e escolher a mais perfeita para a rodear de silêncio, ficarás com a impressão de que ninguém recebe nada com isso. E, no entanto, ela enobrece todo o meu império. Quem quer que passa ao longe, prosterna-se. E nascem os sinais e os milagres.
Não importa que o amor que alguém nutre por ti seja um amor inútil. Desde que tu lhe correspondas, caminharás na luz. Grande é a oração à qual só responde o silêncio; basta que o deus exista.
Se o teu amor é aceite e há braços que se abrem para ti, então pede a Deus que salve esse amor de apodrecer. Eu temo pelos corações cumulados.

Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Eu preciso de alguém

Eu preciso de alguém que assim como eu também goste de musica, poesias e vinho tinto.
Eu preciso de alguém que assim como eu também goste de conversar, de mimar e fazer ninar.
Eu preciso de alguém que assim como eu também derrame lágrimas, cometa erros e peça desculpas.
Eu preciso de alguém que assim como eu também tropece, goste de torta de morango e de cachorros.
Eu preciso de alguém que assim como eu, também precise de alguém...

Sil

sábado, 9 de junho de 2012

Quem inventou o amor? Me explica por favor...

Essa noite demorou a passar, meus olhos fechados não impediam meus pensamentos de tentar encontrar uma resposta.
O que é o amor?
Você encontra alguém e faz desse alguém seu par perfeito, com as maiores afinidades, os mesmos gostos e interesses.
Mas até quando? Oito meses, cinco, vinte anos?
Amar é projetar tudo o que você espera de uma pessoa em alguém que nem tem culpa?
Acho mesmo que o amor é fantasia... quando menos se espera ele cai no chão e o vento forte o leva para tão longe que fica impossível avistar.
Por algum motivo, por bem ou por mal o amor se foi, a fantasia acabou... mas isso não impede que fique o carinho, a amizade e as mãos dadas.
Há quem diga que isso não é amor.
"Quem inventou o amor? Me explica por favor..." Como Renato Russo eu também gostaria desta explicação.

Sil

domingo, 3 de junho de 2012

Nada fazer

"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho… o de mais nada fazer.”

Clarice Lispector