terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção aos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indízivel dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancólicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas promessas dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas das noites encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

Vinicius de Moraes